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Cação não existe

Cação não existe
Cação é tubarão! Apenas uma nomenclatura para se vender carne de um animal em extinção

segunda-feira, 2 de maio de 2011

O Encontro com a Onça Pintada

Não tenho o que comentar, a imagem já diz tudo


Rio Paraguai, depois do voo direto do Rio para Cuiabá, e mais algumas horas de carro até a cidade de Cáceres, estamos agora, embarcado em uma Chalana Hotel. Cinco dias descendo o rio em direção a Bolívia. Como sempre, me distraindo com minha máquina fotográfica, cansado de aves e mata fechada nas duas margens. Saímos cedo na lancha de apoio, para mais um dia de pescaria, já acreditando que não apareceria mais nada interessante para minha lente. Voltamos para a chalana, para um típico almoço pantaneiro. O assunto na mesa, era que uma onça atravessou o enorme rio a nado, até alcançar à outra margem e desaparecer em meio a mata, e eu, lá em outro canto ouvindo apenas pássaros, sob um sol forte. Minha indignação foi total. Conversa vai, conversa vem, uma expressão de p. estampado na "cara" e a certeza que teria perdido uma imagem perfeita, além é claro, imaginem a sequência que poderia fazer, acompanhando em fotos uma fera n'água. Bem, agora já era, foi que pensei. Como sou uma pessoa de muita sorte, recebi uma proposta maravilhosa, de um funcionário da chalana. Quer fotografar uma onça pintada de perto? Óbvio né!
Mas como ele teria tanta certeza que iríamos encontrar uma onça? Se só víamos aves e uma simpática sucuri que ficava perto do barco, para comer o resto da comida que sobrava. Vamos amanhã pela manha, a gente vai ver sim. Noite ansiosa, não via a hora de amanhecer, para que pudéssemos encontrar nossa amiga felina. Lancha de apoio preparada, tanque abastecido, isopor cheio, começamos nossa trajetória até o possível ponto onde poderíamos provocar o encontro. Foi quando o Walter começou a me explicar, isso era uma tradição que havia herdado do seu pai, eles levavam turistas ao encontro com as pintadas. Mas como você tem tanta certeza que iremos encontrar? Uma resposta rápida e certeira. Vamos parar em um lugar onde possamos sair da lancha, irei começar a "esturrar" a onça, ou seja, irei imitar o som que uma onça macho faz como se estivesse tentando dominar o território que alguma outra onça já domina. Pensei, iremos encarar uma onça de frente, sem nenhuma proteção, armado apenas com minha máquina fotográfica e a infalível experiência do meu guia, e se não bastasse essa situação, ainda iremos provocar um encontro para uma possível briga. Não suou bem aos meu ouvidos essa história.


O amigável Zé



Então vamos. Até esse momento não tinha percebido muito bem onde estava me metendo. Motor de popa à toda, esteira se formava no rastro de nossa lancha, não lembro ao certo, mas acho que umas duas horas depois encostamos a lancha em uma pequena sede do ibama, onde morava um casal, e seu filho de apenas três anos de idade. Era a última semana que estavam morando por ali, por que havia uma onça que estava sempre por perto, e pela quarta vez, haviam pegadas pelo terreiro da casa. Comecei a pensar que estava ficando sério esse assunto de fotografar onça. Entramos em uma mata atrás da sede em busca dela, quando ouvimos alguns passarinhos começarem a piar como se estivessem assustados. Está ouvindo? A onça já sentiu nosso cheiro e está saindo para outro lado. Uma coisa é certa, estava ali para fotografar, era inevitável que tivéssemos o nosso encontro. Mas, ouvir que a onça não estava mais por perto foi um alívio. Vamos descer mais o rio, que lá em baixo tem um ponto que vamos conseguir encontrá-la. Antes de sair da sede, uma foto do faminto Zé, um jacaré que morava na redondeza, e sempre que o caseiro chamava ele aparecia. 

A pegada de quem esteve aqui

Partimos novamente, desta vez, confiante na certeza que ele tinha que iríamos conseguir fazer o que fomos fazer, era realmente verdadeira. Em um certo ponto, desligamos o motor da lancha. Estávamos no meio do rio. Walter sentado à frente, com um remo orientava a direção. Silêncio total. Pássaros piavam longe, e com a fumaça de um fósforo para ver qual o sentido do vento, conseguimos manter uma posição, que impedisse que o nosso cheiro atrapalhasse novamente o nosso encontro. Nesse momento, Walter começou a esturrar. Hoje, sentado aqui em meu ambiente de trabalho, na frente de meu laptop escrevendo esta matéria, e relembrando cada momento vivido naquele instante, parece que ainda sinto a sensação, como se arrepiasse todo meu corpo com aquele som, algo soberano, imponente, algo realmente forte. Agora sim, silêncio total, os pássaros quietos, tenho a impressão que até o rio se silenciou neste instante. Meio dia, céu azul, silêncio, silêncio, Walter olha para trás e faz um sinal apontando para margem direita, como se estivesse me dizendo que ele já havia sentido a presença dela, é estranho tentar explicar como é, como foi, mas é uma sensação fortíssima.

A hora da chegada, o momento que meu coração disparou

Agora sim, ouvi o que tanto queria e ao mesmo tempo temia, realmente havia uma onça por perto, silêncio, e o sinal agora era que iríamos encostar a lancha no barranco, bem de vagar ele foi guiando, começamos a passar por baixo de uns galhos, que faziam uma sombra, deixando um clima ainda mais assustador para mim. Calma, silêncio, quando de repente QUA-QUA-QUA-QUA-QUA (um grito bem alto de uma ave que estava escondida e se assustou com a gente) neste momento só não enfartei, porque meu coração soltou pela boca, com meus olhos arregalados e o meu sangue tentando nutrir o que ainda havia restado vivo em mim, fui obrigado manter silêncio ($#@&*^=%#*) vai dar um susto deste na "mãe". Coração ainda batendo no peito, e tentando me recompor do susto, descemos da lancha, céu coberto pelas árvores, chão cheio de folhas secas, um tronco caído, e um espaço aberto entre as árvores, lugar perfeito. Além das provocações feitas pelo Walter, e respondida pela onça, agora comecei a ouvir folhas secas se partindo, em voz bem baixinha escutei: é agora, prepare a máquina. Nossa! É quase impossível tentar passar em simples palavras o que senti.
Um animal enorme, lindo, um amarelo manchado de preto em meio a uma mata verde e cinza, surgiu aos meus olhos, primeiro uma parada atrás de uns galhos, tempo para uma foto, e depois ela veio para mais próximo, de cara conosco, frente à frente, a uns quinze metros da gente. Quando percebeu que foi enganada, parou e ficou nos observando, me encorajei, me acalmei ainda mais, aproveitei aquele momento ímpar e comecei a "clickar". O único barulho que se ouvia agora, era de minha máquina registrando este encanto naquela mata. Até hoje, lembro-me de seu olhar penetrante, seu tamanho, o couro da cabeça enrugado e um machucado no fochinho, que provavelmente tenha sido de alguma briga recente por território. Após uns trinta segundos, já certa de que seu lugar estava protegido, virou-se e desapareceu novamente na mata. Passei a noite ansioso, e pela manhã ainda muito curioso, descemos o rio apreensivo, tive meu momento de assustado e com um pouco de medo. Mas agora que estou no exato lugar que ela estava parada, fotografando suas pegadas deixadas no chão úmido, estou me sentindo realizado. Já dentro da lancha, mais duas foto, um casal de lontra e um belo close no olhar de um jacaré se encaixam me minha lente.
Dia perfeito. Agora é voltar para a chalana, sentar a mesa e começar a contar o que vivi. Absolutamente sensacional. Mesmo achando que não conseguiria uma imagem como esta. Deveria ter acreditado mais, quando ao sair de casa, ouvi: Papai, cuidado para onça não te comer no meio do mato.
Close no olhar

Casal de lontras
De retorno a chalana

2 comentários:

  1. Muito legal..adorei seu trabalho
    www.brunahavresko.com/blog

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  2. Ainda estou sentindo um frio na espinha só de imaginar o acontecido. Sua forma de relatar os fatos nos reporta ao local e ao momento e as fotos são de tirar o fôlego.PARABÉNS!!!!!!!!!!!
    È SIMPLESMENTE MAGNÍFICO!

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